OPINIÃO PUBLICA: A Falha da Democracia na Guiné-Bissau
A Falha da Democracia na Guiné-Bissau
Por: Miguel Vicente Datchuplam
Licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais
A democracia, entendida como o poder exercido pelo povo, deveria ser a base de um Estado justo e estável. Na Guiné-Bissau, apesar da existência de uma Constituição, de eleições periódicas e de instituições republicanas, a prática democrática continua profundamente comprometida. A instabilidade política crônica, a corrupção generalizada e a fragilidade institucional demonstram que a democracia no país tem falhado em cumprir seu propósito fundamental: garantir o bem-estar e a soberania popular.
Desde a independência, a Guiné-Bissau tem enfrentado sucessivos golpes de Estado, interferências militares e mudanças abruptas de governo. Esses eventos minam a confiança do povo nas instituições e interrompem qualquer tentativa consistente de desenvolvimento político e econômico. O poder, muitas vezes, é disputado entre elites políticas e militares, enquanto as necessidades básicas da população são negligenciadas.
Outro aspecto preocupante é a corrupção sistêmica. Os recursos públicos são frequentemente desviados, e a impunidade se tornou regra, não exceção. As instituições de controle, como a justiça e o parlamento, enfrentam sérias dificuldades para atuar com independência e eficácia. Isso compromete o princípio da separação de poderes e enfraquece a credibilidade do Estado diante da população.
A participação cidadã também é limitada. Embora o povo guineense demonstre desejo por mudança e justiça, o sistema não oferece canais eficazes para essa participação. Muitos se sentem desiludidos com a política, o que resulta em baixos níveis de envolvimento eleitoral e na crescente desconfiança em relação aos líderes eleitos.
No entanto, a falha da democracia na Guiné-Bissau não deve ser encarada como definitiva. Ainda há tempo e espaço para reconstruir o país com base em valores democráticos verdadeiros: justiça, transparência, diálogo e respeito pela vontade popular. Para isso, é essencial fortalecer as instituições, combater a corrupção com firmeza, promover a educação cívica e garantir que o poder sirva ao povo — e não o contrário.
Somente com esse compromisso coletivo será possível transformar a democracia guineense de uma promessa frustrada em uma realidade concreta.
Comentários
Enviar um comentário