REFLEXOS E DESAFIOS: OS HOMENS DO MEU PAIS E A POLÍTICA
Por Miguel Vicente Datchuplam
Licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais
Há, na política da Guiné-Bissau, um espelho partido onde os homens se veem e não se reconhecem. Um reflexo distorcido dos heróis que juraram liberdade, mas cujas sombras, hoje, rondam os corredores do poder como espectros de uma independência inacabada.
Desde os dias do sonho revolucionário, em que se gritava "terra a quem nela trabalha", os homens da política guineense foram se afastando do povo e se aproximando do privilégio. O Estado, concebido para ser um instrumento de justiça social, foi, pouco a pouco, transformado em propriedade privada — repartido como quem divide espólios de uma guerra vencida sem paz.
E assim, os palácios tornaram-se fortalezas, e os gabinetes, trincheiras. Os discursos, repetições de promessas cansadas. E os partidos, clubes fechados onde o debate dá lugar à lealdade cega. Os homens, outrora camaradas de luta, tornaram-se senhores de feudos políticos, onde a ideologia se curva ao peso do oportunismo.
A política, que deveria ser ponte entre sonhos e realidade, virou um teatro. E os atores, quase sempre os mesmos. Homens que, em nome do povo, se esquecem dele. Que, entre um golpe e uma reconciliação forçada, perpetuam a instabilidade como modo de governar. Não por ignorância, mas por conveniência.
Entretanto, nos bairros esquecidos e nas tabancas caladas, os jovens olham com desconfiança para a palavra “política”. Para eles, ela já não significa esperança, mas sim engano. E é aqui que mora o maior perigo: a desistência da juventude, o silêncio dos que poderiam ser a mudança.
Contudo, nem tudo está perdido. Nos cantos da resistência silenciosa, há novos homens e mulheres a brotar — com livros em punho, com consciência crítica, com coragem para quebrar o ciclo. São eles os herdeiros legítimos da luta de libertação, não pelos tiros disparados, mas pelas ideias que carregam.
A Guiné-Bissau precisa de homens novos — e não apenas de rostos jovens. Precisa de homens com alma limpa, com vocação para servir e não para se servir. Homens que entendam que a política é, acima de tudo, um ato de amor à pátria e de compromisso com os mais esquecidos.
E talvez, um dia, os espelhos partidos da política guineense possam ser recompostos. E os homens que se olharem neles verão não apenas o reflexo do poder, mas o rosto da responsabilidade.
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