Ensaio
Estudo sem Trabalho na Guiné-Bissau: Entre a Formação e o Desemprego Juvenil
Autor: Miguel Vicente Datchuplam
Licenciado em Ciências Políticas e Relações Internacionais
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Sumário
1. Introdução
2. A Expansão do Ensino e o Sonho da Mobilidade Social
3. Causas Estruturais do Desemprego Juvenil Qualificado
4. Impactos Sociais e Psicológicos
5. Propostas e Caminhos Possíveis
6. Conclusão
7. Referências
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1. Introdução
A juventude representa um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento sustentável de qualquer nação. Na Guiné-Bissau, apesar de avanços no acesso à educação, assiste-se a um fenómeno crescente: a formação de jovens sem a correspondente integração no mercado de trabalho. Esta situação levanta preocupações não apenas em termos económicos, mas também sociais e políticos.
O presente ensaio analisa o paradoxo entre a educação e o desemprego juvenil, identificando causas estruturais, consequências sociais e caminhos possíveis para reverter este cenário que afeta diretamente o futuro do país.
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2. A Expansão do Ensino e o Sonho da Mobilidade Social
Nas últimas décadas, a Guiné-Bissau registou um aumento significativo no número de jovens que concluem o ensino secundário e, em menor escala, o ensino superior. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o acesso à educação básica melhorou especialmente nas zonas urbanas, graças a políticas de universalização do ensino.
Esse progresso gerou novas aspirações: o ensino passou a ser visto como chave para a mobilidade social. No entanto, a formação educacional não tem sido acompanhada por políticas eficazes de empregabilidade, o que resulta em milhares de jovens formados sem colocação no mercado de trabalho.
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3. Causas Estruturais do Desemprego Juvenil Qualificado
Vários fatores explicam o descompasso entre formação e trabalho:
Falta de Planeamento Educacional: Os currículos escolares permanecem desatualizados e desconectados das necessidades do setor produtivo.
Economia Frágil e Informal: A economia guineense é dominada pela agricultura de subsistência e pelo setor informal, que não absorve mão de obra qualificada.
Instabilidade Política: Golpes de Estado e crises governamentais sucessivas geram um ambiente de incerteza que afasta investidores e desestrutura políticas públicas.
Ausência de Políticas Públicas de Inserção Profissional: Faltam programas estatais de estágio, primeiro emprego, apoio ao empreendedorismo ou incentivo ao setor privado.
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4. Impactos Sociais e Psicológicos
O impacto do desemprego entre jovens diplomados vai além da economia. A frustração individual evolui para um sentimento coletivo de descrença nas instituições do Estado. O discurso recorrente de que "estudar não compensa" desvaloriza o conhecimento e enfraquece a função social da escola.
Além disso, o desemprego juvenil está associado a um aumento da emigração — muitas vezes irregular —, ao envolvimento em redes ilícitas e à deterioração da saúde mental, com casos crescentes de ansiedade, depressão e desesperança.
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5. Propostas e Caminhos Possíveis
Enfrentar o problema exige um compromisso político e institucional firme, com soluções integradas e realistas:
1. Reforma Curricular e Valorização do Ensino Técnico: A educação deve priorizar competências práticas e adaptar-se às dinâmicas do mercado nacional e regional.
2. Promoção do Empreendedorismo Jovem: Incentivos como microcrédito, formação em gestão e incubadoras de negócio podem ajudar jovens a criarem os seus próprios empregos.
3. Estabilização Política e Segurança Jurídica: O investimento privado depende de um ambiente político estável e previsível.
4. Políticas Públicas de Transição Escola-Trabalho: Programas de estágio, parcerias com empresas e incentivos fiscais ao primeiro emprego são estratégias fundamentais.
5. Investimento em Economia Criativa e Rural: A valorização de setores culturais, tecnológicos e agroindustriais pode gerar novas oportunidades.
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6. Conclusão
A realidade do estudo sem trabalho na Guiné-Bissau constitui um dos maiores paradoxos enfrentados pela juventude nacional. Ao mesmo tempo que se promove a educação como via para o progresso, falha-se na criação de condições mínimas para que esse progresso se concretize.
Reverter esse cenário exige coragem política, visão estratégica e, sobretudo, uma escuta ativa da juventude. Formar é necessário, mas formar com propósito e perspectiva de integração digna no mundo do trabalho é o verdadeiro desafio. Um país que abandona os seus jovens formados, renuncia ao seu próprio futuro.
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7. Referências
Instituto Nacional de Estatística (INE). (2023). Relatório Anual sobre a Juventude e Emprego na Guiné-Bissau.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). (2022). Emprego Jovem e Desenvolvimento Sustentável na África Ocidental.
Organização Internacional do Trabalho (OIT). (2021). Transição da Escola para o Trabalho na África Subsaariana.
AfDB. (2020). Youth Employment in Africa: Improving the Quality of Jobs for Young People.
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