RENAJ E OS PARTIDOS POLÍTICOS: ENTRE A REPRESENTAÇÃO JUVENIL E O JOGO DO PODER

A juventude guineense, tantas vezes celebrada nos discursos e ignorada nas decisões, vive no limiar entre a esperança e o cansaço. No meio desta tensão social e política, a RENAJ – Rede Nacional das Associações Juvenis da Guiné-Bissau surge como uma plataforma que deveria representar os interesses da juventude, mobilizar consciências e construir pontes para o futuro. Mas a pergunta que ressoa entre os becos das cidades e os trilhos do interior é inquietante: para quem serve a RENAJ hoje? Para os jovens ou para os partidos políticos?

É inegável o papel importante que a RENAJ pode ter na promoção da cidadania ativa, no empoderamento juvenil e na defesa dos direitos sociais. Em teoria, é uma rede independente, plural, apartidária. Mas na prática, há sinais preocupantes de instrumentalização política, onde a juventude se transforma em escada para a ascensão de lideranças partidárias ou em massa de manobra durante campanhas eleitorais.

A relação entre a RENAJ e os partidos políticos tem sido marcada por ambiguidade e dependência. Muitos jovens líderes, ansiosos por oportunidades, acabam capturados por lógicas partidárias que não visam a transformação estrutural, mas a ocupação de cargos e a perpetuação do status quo. Em vez de serem catalisadores de mudança, tornam-se réplicas de um sistema que nada oferece de novo à juventude.

Por outro lado, os próprios partidos políticos olham para a RENAJ como reserva estratégica de votos, como espaço de recrutamento para as suas juventudes partidárias. Oferecem apoios pontuais, prometem formações, distribuem camisolas e megafones, mas raramente escutam os anseios reais da juventude guineense: escolas dignas, empregos estáveis, saúde acessível, participação democrática genuína.

Há que dizer com coragem: a juventude não é propriedade de nenhum partido. E a RENAJ precisa resgatar a sua autonomia, a sua identidade coletiva e a sua missão. Deve estar próxima das comunidades, das escolas, dos centros juvenis esquecidos no mato, dos jovens que nunca tiveram oportunidade de falar, mas que sentem a pátria a escorregar-lhes pelas mãos.

É tempo de reflexão. A RENAJ precisa de uma reforma ética e estratégica. Precisa de jovens líderes que não confundam militância com submissão, e que saibam dizer não à cooptação partidária quando esta coloca em risco o bem comum. Precisa de ser uma rede onde os jovens se reconheçam, e não uma estrutura decorativa usada em vésperas de eleições.

Porque uma juventude sem voz é uma democracia mutilada. E uma RENAJ silenciosa, dominada por interesses partidários, é uma traição ao futuro da Guiné-Bissau.

Miguel Vicente Datchuplam 




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