O MEU PAI E A SUA PARTIDA
Tenho apenas duas primaveras quando o meu pai parte. É tão cedo que não tenho memórias suas, nenhuma imagem guardada em fotografias, nenhum riso ou gesto seu para recordar. Ele simplesmente desapareceu da minha vida antes mesmo que eu pudesse compreendê-lo.
Sem fotos, sem histórias contadas por ele, fico preso a um silêncio que fala alto. As pessoas falam do meu pai, mas eu não consigo formar uma imagem clara na minha mente — ele é uma sombra vaga, um nome que soa distante. Essa ausência completa me acompanha como um mistério sem resposta, uma falta que não sei bem como preencher.
O que dói não é só a falta física, mas o vazio das lembranças. Não tenho um único momento seu para guardar no coração, nenhum gesto que me faça sentir perto. Cresci com perguntas mudas, com a vontade de entender quem ele foi, por que se foi tão cedo, e o que teria sido se tivesse ficado.
Apesar disso, aprendi a seguir em frente, construindo a minha história sem o passado dele para me apoiar. A ausência do meu pai tornou-se parte de mim, uma marca invisível que me lembra que nem sempre podemos controlar as histórias que a vida escreve. E, mesmo sem memórias ou fotos, carrego dentro de mim a esperança de que um dia, de alguma forma, vou preencher esse espaço com sentido.
Miguel Vicente Datchuplam
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