CARTA ABERTA À MINHA GUINÉ

 À República da Guiné-Bissau 

 Aos seus digníssimos filhos e filhas, 

 À sua memória, presente e futuro. 

 Assunto: Reflexão sobre o estado da nossa Nação 

 Prezada Guiné-Bissau, 

Dirijo-me a ti por meio desta carta aberta, não apenas como cidadão, mas como filho que carrega no peito a tua dor, os teus silêncios e a tua imensa beleza. 

Escrevo-te com respeito, saudade e esperança, com o firme propósito de dialogar contigo, mesmo que simbolicamente, sobre o que és, o que foste e o que, juntos, podemos ser. 

 És uma pátria rica em história, cultura e resistência. Do espírito de Amílcar Cabral à força do povo que luta todos os dias pela sobrevivência, tens demonstrado ao mundo a tua coragem. 

No entanto, é impossível calar a preocupação que me assombra ao ver-te ainda marcada por instabilidades políticas, promessas vazias e ausência de serviços básicos que garantam dignidade ao teu povo. Numa terra onde tantos morrem sem assistência médica, onde crianças estudam em salas precárias e jovens abandonam os seus sonhos por falta de oportunidades, torna-se necessário levantar a voz — não em tom de acusação, mas de apelo. Guiné, precisamos de ti forte, estruturada e justa.

 Os teus filhos clamam por educação de qualidade, saúde digna, justiça imparcial e respeito pelos direitos humanos. Precisamos resgatar o amor-próprio nacional, valorizar os quadros da terra, preservar as nossas línguas e tradições, e construir um futuro onde ninguém precise partir para sobreviver. Tenho fé em ti. Acredito no potencial do teu povo, na força das tuas mulheres, na coragem dos teus jovens e na sabedoria dos teus mais velhos. 

Acredito que, com união e responsabilidade, ainda poderás ser o país que os teus heróis sonharam. Deixo aqui este humilde apelo, não como crítica, mas como manifestação de amor. Porque amar é também exigir mudança. 

 Com elevada consideração e profundo respeito, 

 Subscrevo-me, 

 Miguel Vicente Datchuplam 

 Cidadão guineense e filho comprometido com a pátria